esta publicação faz parte da newsletter plot persuits, onde eu compartilhos minhas leituras e as minhas crises existenciais, toda terça-feira, às 8h.
o impacto do tiktok, especialmente através do booktok, no mercado literário é inegável. você provavelmente já viu aquele livro que estava meio apagado nas prateleiras de repente virar um best-seller porque alguém fez um vídeo com ele, né?
segundo dados do mercado, livros que viralizam no tiktok podem ver suas vendas aumentarem em até 1000%. é como se um toque mágico transformasse uma história comum em um fenômeno. mas, como toda magia, tem um preço, e nem sempre é aquele final feliz que a gente espera.
entre a benção e a maldição
vamos combinar, o booktok tem uma capacidade incrível de conectar leitores e despertar o interesse pela leitura, o que é fantástico. para autores e editoras, isso é uma benção que possibilita que títulos antes relegados a nichos de mercado ganhem uma audiência global. no entanto, esse mesmo poder vem com um lado sombrio: a pressão constante para criar histórias que se encaixem nas fórmulas que já viralizaram.
é como se estivéssemos todos presos em um looping temporal onde as histórias precisam seguir fórmulas que já deram certo. o caso de powerless, por exemplo, é um belo retrato disso. as semelhanças gritantes com jogos vorazes e a rainha vermelha são difíceis de ignorar, e fazem a gente questionar:
onde está a originalidade nisso tudo?
autores e editoras acabam se vendo tentados a seguir uma fórmula comprovada: protagonistas jovens, enredos românticos complicados, reviravoltas dramáticas e, claro, uma pitada de fantasia ou distopia. esses elementos, quando bem executados, são certamente atraentes, mas quando repetidos à exaustão, podem levar a uma saturação do mercado. as histórias começam a parecer mais do mesmo, e o que era para ser um mundo de possibilidades infinitas começa a se sentir claustrofóbico, limitado pela necessidade de se encaixar no molde que o booktok consagrou.
essa situação leva a um dilema: ao mesmo tempo em que o booktok populariza a leitura, ele também pode estar incentivando uma homogeneização da produção literária, onde a inovação é sacrificada em favor de repetir fórmulas que garantem o sucesso.
é uma maldição que acompanha a benção da viralização.
inspiração ou plágio?
o segundo ponto que merece uma análise mais profunda é o limiar entre inspiração e plágio, especialmente em um mercado onde a repetição de temas e fórmulas é cada vez mais comum. a criação literária é, por natureza, um processo cumulativo. autores se inspiram em histórias que leram, em mitos, em culturas e em experiências pessoais. a própria fantasia como gênero é uma colcha de retalhos de lendas, contos de fadas e tradições orais que foram reinventadas ao longo dos séculos.
mas onde traçamos a linha? quando a inspiração vira cópia?
a questão não é nova.
por exemplo, o clássico debate sobre o senhor dos anéis e suas influências em praticamente toda a fantasia moderna ilustra bem isso. j.r.r. tolkien não inventou a fantasia, mas ele definiu muitas de suas convenções. ainda assim, autores posteriores que se inspiraram em sua obra conseguiram criar mundos que, embora semelhantes, são únicos em sua execução.
por outro lado, temos casos em que a “inspiração” parece ser uma cópia descarada. em 2014, a autora j.k. rowling foi acusada de plágio por harry potter em um processo que alegava que ela havia roubado elementos de um livro publicado em 1987 chamado the adventures of willy the wizard. o caso foi arquivado, mas levantou questões sobre até que ponto elementos semelhantes podem ser considerados plágio.
vamos falar sobre powerless?
o caso de powerless se encaixa nessa discussão.
a crítica de que o livro de lauren roberts é excessivamente semelhante a jogos vorazes e a rainha vermelha destaca um problema crescente no mercado literário: a pressão para repetir o sucesso dos outros. enquanto powerless pode ter diferenças em termos de personagens e enredo, a estrutura narrativa, os conflitos centrais e até mesmo o mundo distópico onde se passa a história são tão próximos de suas inspirações que muitos leitores se perguntam se há algo verdadeiramente novo a ser encontrado.
quando analisamos powerless em comparação com essas obras anteriores, fica claro que os paralelos são muitos. tanto em jogos vorazes quanto em a rainha vermelha, encontramos protagonistas que, em meio a sociedades opressivas e hierarquizadas, precisam esconder sua verdadeira identidade para sobreviver. essas protagonistas são forçadas a participar de desafios ou competições mortais que determinam não só seu destino, mas também o futuro de toda a sociedade. em powerless, esses elementos estão presentes de maneira tão marcante que é difícil não enxergar as semelhanças como mais do que coincidências.
isso levanta a questão: até onde a inspiração pode ir antes de se tornar uma simples repetição de temas já explorados?
é importante lembrar que a literatura, assim como qualquer outra forma de arte, é construída sobre o que veio antes. shakespeare, por exemplo, se inspirou em lendas, mitos e até mesmo em outras peças para criar suas obras-primas. no entanto, ele reimaginou essas histórias de maneiras que as tornaram únicas e profundamente inovadoras para sua época.
a linha tênue da criação literária
o problema em casos como powerless não é a inspiração em si, mas a percepção de que a obra não conseguiu ir além das suas influências. quando as semelhanças com jogos vorazes e a rainha vermelha são tão flagrantes, fica a impressão de que o livro está se aproveitando do sucesso desses predecessores sem adicionar uma nova camada de complexidade ou inovação à fórmula.
essa abordagem pode funcionar no curto prazo, especialmente em um mercado ávido por novos conteúdos que ressoem com o público de forma familiar. porém, a longo prazo, isso pode levar a uma saturação criativa, onde novos trabalhos são vistos como meras cópias ou variações de temas já exaustivamente explorados.
além disso, a influência do booktok infla ainda mais essa tendência.
na busca por conteúdo que viralize rapidamente, histórias que se alinham a fórmulas conhecidas têm mais chances de ganhar destaque. um livro que remete a sucessos anteriores pode ser mais facilmente vendido para um público que já sabe o que esperar.
essa estratégia, no entanto, pode acabar prejudicando a inovação literária.
ao invés de promover a diversidade de histórias e a experimentação narrativa, o mercado se vê cada vez mais inclinado a reproduzir o que já deu certo, criando um ciclo de repetição que limita o desenvolvimento do gênero.
o futuro da literatura no mundo do booktok
então, onde isso tudo nos deixa?
o tiktok e o booktok mudaram a forma como a gente consome literatura, mas com esse poder vem uma responsabilidade. a gente precisa questionar até que ponto estamos dispostos a aceitar essa repetição de fórmulas e clichês em nome de um sucesso rápido. afinal, a literatura sempre prosperou na diversidade de ideias, na ousadia de autores que desafiam o status quo.
talvez a grande lição aqui seja que, enquanto o booktok é uma ferramenta incrível para popularizar livros, também precisamos ter um olhar crítico. precisamos apoiar autores que arriscam, que buscam inovar, mesmo quando é mais fácil seguir uma fórmula que já deu certo. porque no final das contas, a magia da leitura está em descobrir novas histórias, não em revisitar velhas narrativas com uma capa nova.
e aí, da próxima vez que você pegar um livro que está bombando no tiktok, que tal parar um segundo e se perguntar: isso é algo novo ou só mais um déjà vu literário? porque, no fundo, todos nós merecemos histórias que nos surpreendam, que nos façam pensar e sentir algo realmente novo. e para isso, a originalidade precisa ser mais do que uma ideia, precisa ser o ingrediente principal.
👀 eu estou obcecada por esses livros
twisted lies: eu vivi todos os meus dias pra ver o christian harper ser o homem mais obcecado pela mulher dele, sério. eu amo tanto um casal que nem sei.
a crisálida dourada: a protagonista desse livro mandando os machos a merda e mostrando que ela que manda na porra toda, é isso.
king of sloth: xavier é o último romântico, sério. a gente precisava muito de um herói sunshine e não sabia.
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🏷 nota de rodapé
você leu até o fim! ❤ eu sei que essa newsletter é meio inconstante, mas sabe o que não é? as minhas redes sociais. então não deixa de me acompanhar em outros canais para não perder os meus surtos literários!
Adorei seus questionamentos e em grande parte deles eu concordo plenamente, acredito que as redes sociais acabam exterminando muito da criatividade em geral, porque só determinadas formas funcionam então acabamos seguindo elas seja para ter um livro bombado ou ter mais clientes, isso me deixa realmente triste! Eu sempre fui muito fã do diferente e do desconhecido por ser curiosa e hoje em dia a mesmice reina em várias áreas inclusive na nossa amada literatura 😔
amiga, eu acho essa conversa tão importante. porque sabe que eu tava pensando sobre isso, mas extrapolando pro universo da internet/redes sociais. a gente fica num de replicar fórmulas de novo e de novo e de novo até que todo mundo enjoa e decide mandar tudo pro espaço. só pra pegar outra rede social/assunto/livro e fazer a mesma coisa até enjoar... e o ciclo continua. parece um eterno hype de paleta mexicana (lembra dela?).
e eu acho que isso só faz a gente perder em possibilidades de se apaixonar, aprender com e explorar outros gêneros e ideias na literatura. enfim, é um papo longo, né?