esta publicação faz parte da newsletter plot persuits, onde eu compartilhos minhas leituras e reflexões sobre a comunidade leitora, toda terça-feira, às 8h.
o preconceito contra o gênero romance no mercado literário é como aquela piada sem graça que ninguém ri mais, mas que, por algum motivo bizarro, continua sendo contada em todas as rodas.
a história é sempre a mesma: como o romance se dedica ao amor, às emoções e aos relacionamentos, ele acaba automaticamente colocado num patamar inferior, tipo uma subcategoria da literatura, como se lidar com o coração humano fosse menos complexo que explorar guerras ou crises existenciais.
é quase como se tivesse uma linha imaginária separando o que é “sério” do que é “frívolo”, e adivinha quem sempre fica do lado “errado” dessa linha?
e, claro, tem aquela pitada clássica de machismo gourmetizado nisso tudo. afinal, se o público principal do gênero são mulheres, então já vem com um rótulo de “literatura de segunda categoria” carimbado na testa. é como se emoções e relações, quando exploradas por e para mulheres, fossem menos legítimas do que outras formas de arte. e aí, o romance vira aquele primo que todo mundo curte secretamente, mas que ninguém quer admitir que lê em público — um sucesso absoluto nas redes sociais, mas mantido em segredo nos círculos literários elitistas.
aí, quando o booktok entra em cena, a coisa toma proporções surreais.
de repente, o romance tá em todo lugar, todo mundo falando, todo mundo lendo. mas, claro, com mais visibilidade vem mais julgamento. o gênero, que já era desvalorizado, agora se torna alvo de novas críticas, muitas vezes maquiadas com um ar de superioridade moral. e a ironia maior? o romance tá brilhando como nunca. ao mesmo tempo que ele tá vivendo o seu auge, precisa lidar com os mesmos velhos preconceitos que se recusam a morrer, grudados nele como chiclete na sola do sapato.
estereótipos e desvalorização do gênero
ah, os estereótipos... nada como um bom rótulo pra manter o romance no seu “devido lugar” no mercado literário, né? só que esse lugar é lá embaixo, escondido numa prateleira meio empoeirada, sendo rotulado como “literatura menor”.
e sabe por quê? porque é consumido majoritariamente por mulheres.
e se tem uma coisa que a sociedade adora fazer é desvalorizar o que agrada o público feminino, classificando automaticamente como “menos relevante” qualquer coisa que envolva sentimentos, vulnerabilidade ou o lado mais humano da vida. é aquela velha lógica torta que ainda guia uma galera no mercado editorial: se não tem explosões, guerras ou jornadas épicas em outros planetas, então não deve valer muito.
o que é uma baita hipocrisia, né?
a real é que muita gente ainda acha que emoção e relacionamentos são temas inferiores, comparados a, sei lá, naves espaciais e guerras intergalácticas. mas, na boa, desde quando explorar as complexidades das emoções humanas virou coisa de “segunda categoria”? romances como gothikana estão aí pra provar o contrário. essas histórias não só tratam de temas pesadíssimos como saúde mental, suicídio e dinâmicas de poder, mas fazem isso dentro de uma trama de amor que conecta o leitor de um jeito profundo. e, convenhamos, é exatamente esse equilíbrio entre o emocional e o sombrio que torna a coisa toda tão fascinante.
então, no fim das contas, o que o preconceito contra o romance realmente tá dizendo?
que a literatura voltada para o público feminino precisa lutar o dobro pra ser levada a sério. enquanto outros gêneros ganham prêmios e elogios por suas tramas complexas e narrativas inovadoras, o romance tá sempre tendo que provar seu valor, como se uma boa história de amor não pudesse carregar em si os mesmos dilemas e questões existenciais que qualquer outro tipo de narrativa.
só que a verdade é que, em muitos casos, o romance faz isso até melhor, justamente porque tem a coragem de explorar aquilo que nos torna mais humanos: nossos sentimentos.
o impacto do booktok: visibilidade e novas críticas
quando o booktok entrou na jogada, o romance deixou de ser o “segredo de estante” pra virar o centro das atenções.
de repente, esses livros estavam pipocando em todo canto, viralizando com uma força que ninguém esperava. subgêneros como romantasy e dark romance explodiram de popularidade, e leitores que antes escondiam suas edições embaixo de outras obras agora estavam postando orgulhosamente fotos com suas capas brilhantes e prateleiras lotadas de títulos que, pra ser sincero, as editoras jamais sonharam que se tornariam best-sellers. livros que antes eram considerados de nicho agora estão tomando o mercado, e tudo isso porque o booktok deu uma nova plataforma pra esse público apaixonado.
mas, com essa visibilidade toda, vieram também as pedras.
críticos, que já olhavam de lado pro gênero, agora tinham ainda mais argumentos: muitos passaram a ver essa febre de romances no booktok como um sintoma de superficialidade, como se toda essa onda de amor pelos livros estivesse sendo guiada por capas bonitas e filtros coloridos, e não pelo conteúdo. e, honestamente, se os leitores estão comprando livros pelas capas, quem realmente pode julgá-los? a gente vive numa era visual, então por que não curtir um livro que também decore bem a prateleira?
o spicy romance, um subgênero que ganhou força absurda no booktok, também trouxe à tona novas discussões. romances com cenas mais quentes, que antes ficavam meio escondidos, agora estão à vista de todos. isso, claro, levantou debates sobre a romantização de comportamentos tóxicos e abusivos, especialmente no dark romance, onde muitas vezes os personagens caminham por uma linha bem tênue entre amor e obsessão.
e aí fica a pergunta:
o problema tá no gênero em si ou na forma como a gente tá interpretando essas histórias?
a crítica tradicional adora dar umas boas marteladas nesses pontos, focando na moralidade da coisa e esquecendo que, por trás de toda aquela tensão erótica e das brigas entre os protagonistas, existem camadas mais profundas pra serem exploradas. mas, claro, é sempre mais fácil julgar o livro pela capa — ou, nesse caso, pelas cenas de romance explosivo — do que admitir que ele pode ter algo a dizer sobre as nuances do comportamento humano.
a resistência das editoras e a mudança de tendências
aí a gente entra no capítulo das editoras, que, coitadas, estão meio perdidas tentando se adaptar a essa nova realidade onde quem manda é o leitor, não o mercado.
antes, as editoras ditavam o que ia ou não pra prateleira, decidindo o que o público “deveria” ler. agora, é o oposto: os leitores é que viralizam livros em questão de minutos, e as editoras precisam correr atrás do prejuízo. como resultado, elas estão investindo pesado em capas lindas, edições especiais e marketing direcionado, tudo pra capturar a atenção de quem tá rolando o feed, com o dedo nervoso e a estante pronta pra receber mais um best-seller do momento.
mas, mesmo com todo esse esforço, o velho preconceito continua firme e forte.
tem uma galera na indústria que simplesmente não consegue aceitar que o romance é um sucesso legítimo e que o público, em especial o do booktok, tem tanto (ou mais) poder quanto qualquer outro. a resistência a esse sucesso é tão forte que algumas pessoas chegam a acusar as editoras de estarem “comercializando demais” o gênero, como se vender mais livros fosse uma ofensa ao “valor artístico”. a acusação é que, ao focar nas capas chamativas e no apelo visual, as editoras estariam tirando a profundidade das histórias e apelando só pro consumo rápido.
é quase como se essa crítica estivesse torcendo, secretamente, pro gênero tropeçar, só pra poder virar e dizer: “eu avisei”.
no fundo, é uma luta entre o que sempre foi visto como “literatura de qualidade” e essa nova onda que está provando que romances podem ser tanto um prazer visual quanto emocional, sem perder a alma.
preconceito literário e questões morais no romance
agora, vamos entrar na parte que sempre causa um frisson: a moralização do romance. subgêneros como o dark romance estão no centro desse furacão, constantemente criticados pela forma como lidam com comportamentos abusivos. livros como haunting adeline não têm medo de explorar temas pesados como perseguição, abuso e obsessão dentro de um contexto romântico, e é aí que a coisa pega. muita gente torce o nariz, especialmente porque esses livros são consumidos por leitores mais jovens, o que gera questionamentos sobre o impacto que essa romantização de comportamentos tóxicos pode ter na percepção de relacionamentos saudáveis.
e, sinceramente, não dá pra ignorar essa crítica.
a linha entre ficção e realidade pode ficar bem borrada, principalmente quando estamos falando de um público que ainda está moldando suas ideias sobre o que é aceitável num relacionamento. é fácil ver como certos padrões narrativos podem influenciar, direta ou indiretamente, a maneira como esses leitores enxergam o amor, o desejo e o poder. mas a pergunta que fica é: será que isso significa que o dark romance como um todo deve ser descartado? ou será que a gente precisa dar um passo atrás e olhar essas histórias de uma maneira mais complexa?
o que acontece é que, muitas vezes, a crítica prefere ir direto pro ataque moral, sem considerar as nuances da narrativa. é mais fácil rotular o gênero como “problemático” do que tentar entender o que ele está realmente propondo. e o que realmente complica a questão é que essa abordagem moralizante acaba funcionando como uma desculpa pra desvalorizar o gênero inteiro. enquanto outros tipos de literatura são analisados artisticamente, com foco nas suas intenções e contextos, o romance — especialmente o dark romance — é jogado de lado com julgamentos rápidos e rasos.
isso acaba reforçando um ciclo de preconceito literário.
a moralidade vira o escudo pra evitar discussões mais profundas sobre o que essas narrativas podem estar dizendo sobre poder, trauma e desejo. o problema é que, enquanto os críticos continuam focados em apontar o dedo pro conteúdo moral, a análise artística e narrativa é deixada pra escanteio, perpetuando a ideia de que romances não são dignos de um olhar mais atento. o ponto é que essas histórias, apesar de polêmicas, têm valor literário e merecem ser examinadas de uma maneira que vá além da superfície, reconhecendo suas intenções e impacto emocional.
o gênero que desafia, incomoda e cativa
no fim das contas, o romance é aquele gênero que continua dando uma rasteira nas normas literárias e sociais, mesmo quando tentam colocá-lo numa caixinha.
ele tem a audácia de explorar o que muitos gêneros evitam: emoções cruas, relacionamentos complicados e a complexidade das interações humanas.
o romance provoca e incomoda porque não tem medo de ir direto ao ponto, de falar sobre aquilo que nos move e nos destrói, de um jeito que só uma boa história de amor (ou desamor) consegue fazer. ao mesmo tempo, ele conquista legiões de leitores que sentem uma conexão profunda com essas histórias, e essa base de fãs não para de crescer.
e aqui está a verdadeira questão: enquanto o preconceito continuar firme, o romance vai seguir fazendo o que faz de melhor — quebrando barreiras, desafiando quem tenta diminuí-lo, e mostrando que emoções e relacionamentos são tão essenciais quanto qualquer outro tema “sério” na literatura.
quem foi que disse que falar sobre o coração humano é menos profundo do que falar sobre batalhas ou crises existenciais?
se a discussão sobre o valor do romance incomoda algumas pessoas, talvez o problema não esteja no gênero em si, mas no fato de que ele escancara verdades que muitos preferem varrer pra debaixo do tapete.
o romance, no fundo, questiona a própria estrutura da literatura e do que é considerado “elevado” ou “banal”. ele não pede permissão pra ser relevante — ele simplesmente é. e se isso deixa alguns desconfortáveis, bom, é sinal de que o romance está fazendo o que sempre fez de melhor: cutucar onde dói, mexer com o emocional e lembrar que, no fim das contas, todos estamos em busca de algo que nos faça sentir, mesmo que seja incômodo.
👀 e por falar em autoras que você precisa conhecer
os que esperam nas sombras: samanta não queria sair do rio, mas acabou numa casa mal-assombrada em 1992, com uma vizinha misteriosa e problemas que só fantasmas e adolescentes incompreendidos podem trazer.
first time: hope só queria paz e silêncio, mas agora está presa num falso namoro com seu vizinho barulhento e, claro, tudo isso porque uma foto comprometedora fez o favor de arruinar suas vidas.
scarlet devotion: chapeuzinho sempre soube que a floresta era perigosa, mas nunca imaginou que seu maior medo estaria à espreita, pronto para transformar a inocência em um jogo fatal de perseguição.
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🏷 nota de rodapé
você leu até o fim! ❤ eu sei que essa newsletter é meio inconstante, mas sabe o que não é? as minhas redes sociais. então não deixa de me acompanhar em outros canais para não perder os meus surtos literários!
Se eu entendi bem, você acredita que os romances que o booktok promove são complexos, profundos e tão literários quanto qualquer outra obra aclamada, mas as pessoas (principalmente homens e gente que estuda literatura) não conseguem apreciar a grandeza dessas obras porque são elitistas e machistas (não gostam do que as mulheres gostam). Não sei se concordo muito com essa visão.
Muito bom! Tocou em pontos que eu não tinha pensado ainda, principalmente sobre Dark Romance que é algo que estou interessado em pesquisar mais. Essa semana sai um artigo na minha newsletter sobre literatura romântica também, nossa produção continua convergindo bastante sz parabéns pelo texto