esta publicação faz parte da newsletter plot persuits, onde eu compartilhos minhas leituras e reflexões sobre a comunidade leitora, toda terça-feira, às 8h.
enquanto é fácil cair na tentação de criticar as mulheres adultas que se jogam de cabeça em personagens fictícios ou nos romances “spicy” que estão bombando no booktok, a verdade é que esse tipo de crítica acaba sendo bem superficial e até um pouco injusta.
a obsessão por esses gêneros costuma ser vista como sinal de imaturidade ou falta de bom gosto literário, mas, se a gente parar pra pensar, isso ignora as camadas mais profundas e complicadas dessa história. porque, quando o assunto é o suposto “declínio literário”, as causas são muito mais complexas do que simplesmente a popularidade de certos tipos de livros.
o que muita gente não percebe é que o sucesso de gêneros como os romances “spicy” é um reflexo de mudanças culturais e sociais maiores, onde as mulheres estão cada vez mais tomando o espaço que lhes é de direito, e afirmando seu gosto por conteúdos que falam diretamente às suas experiências e desejos. além disso, a crítica a esses livros quase sempre carrega um viés de gênero, desmerecendo automaticamente tudo que é popular entre o público feminino.
reduzir essa discussão a uma briga de “boa” ou “má” literatura é simplificar demais algo que, na real, é cheio de nuances e complexidades.
eu já dei minhas cutucadas na comunidade de livros online em outros vídeos, mas acho que agora é hora de dar uma aprofundada e trazer mais nuances pra essa conversa. precisamos ir além das críticas rasas e começar a discutir o que está realmente em jogo quando a gente fala sobre o impacto do booktok na literatura.
será que essas críticas são mesmo uma preocupação genuína com a qualidade literária? ou será que têm mais a ver com o desconforto que vem quando os padrões de consumo mudam e o que era considerado “bom gosto” é desafiado?
essa é a conversa que a gente precisa ter.
a popularidade dos romances "spicy"
os romances “spicy” explodiram no booktok, com suas cenas picantes e histórias de amor intensas, e se tornaram o combustível principal dessa comunidade. esses livros, que muita gente chama de “literatura de segunda categoria”, acabam sendo alvo fácil de críticas por serem considerados superficiais e cheios de clichês. mas antes de sair jogando pedra, vale a pena entender por que esses livros fazem tanto sucesso.
primeiro, os romances “spicy” atendem a uma demanda clara de um público específico, principalmente mulheres jovens que querem histórias que falem abertamente sobre sexualidade e relacionamentos. num mundo onde falar de sexo ainda é tabu pra muita gente, esses livros oferecem um espaço seguro para explorar fantasias e desejos sem medo de julgamento.
além disso, a popularidade desses romances no booktok mostra que tem uma mudança cultural rolando, com as mulheres reivindicando seu direito de consumir e discutir literatura que conversa diretamente com seus interesses e necessidades.
e essa crítica de que os livros são superficiais ou mal escritos? muitas vezes ignora o fato de que qualidade literária é algo subjetivo, né? o que pra uns é clichê, pra outros é um tema universal que toca em experiências pessoais. no fim, o sucesso dos romances “spicy” no booktok prova que tem muita gente ávida por essas histórias, e desmerecer isso é ignorar as vozes e experiências dessas leitoras.
a crítica sensacionalista e o lucro em cima do booktok
tem muito criador de conteúdo por aí que se aproveita das críticas ao booktok, usando títulos chamativos e argumentos rasos só pra ganhar clique e visualização. esses vídeos quase sempre focam nos aspectos mais superficiais da plataforma, como a tal da performatividade ou o consumismo exagerado, e deixam de lado as discussões mais profundas e importantes que também rolam por lá.
esse tipo de abordagem não só distorce a visão que a galera tem da comunidade, mas também alimenta um ciclo de negatividade e desinformação. em vez de oferecer críticas construtivas que poderiam enriquecer o debate sobre literatura online, esses criadores preferem bater na tecla das divisões entre “alta” e “baixa” cultura literária, reforçando a ideia de que o booktok é só um espaço de "má literatura" que não merece ser levado a sério.
e sabe o que é pior?
enquanto esses vídeos ficam focando no booktok como o “grande vilão”, eles acabam distraindo o público dos problemas reais que afetam a literatura, como a concentração de poder nas mãos de grandes editoras, a automação na produção de livros e o fechamento de bibliotecas.
ou seja, estão apontando o dedo pro lugar errado.
a tensão entre “intelectuais” e leitores populares
a tensão entre quem se vê como “intelectual” e quem consome romances populares, especialmente dentro do booktok, não é só uma questão de gosto literário. essa divisão mostra uma disputa bem mais profunda sobre status, poder e sobre quem manda na cultura.
historicamente, a ideia de “alta” e “baixa” cultura sempre foi usada pra manter certas hierarquias sociais e culturais. a “alta” cultura, que inclui os clássicos da literatura e das artes, é vista como superior e mais valiosa, enquanto a “baixa” cultura, que engloba coisas como romances, quadrinhos e entretenimento de massa, é tratada como inferior ou até perigosa.
mas essa divisão não é só sobre o que se lê — é sobre quem tem o poder de decidir o que é “bom” ou “ruim” na cultura.
no booktok, essa tensão só aumenta, porque agora qualquer um pode compartilhar suas opiniões sobre livros e influenciar milhares de pessoas. isso mexe com o poder tradicional dos críticos literários e acadêmicos, que antes tinham quase todo o controle sobre o que era considerado bom gosto. ver romances “spicy” ou YA ganhando tanto destaque e sendo amados por milhões de pessoas desafia essa autoridade, e isso, claro, causa desconforto.
mas essa tensão também traz à tona questões de elitismo e exclusão. por que os gostos literários de um grupo devem ser considerados superiores aos de outro? e por que a literatura popular, que fala tanto com as experiências de tanta gente, deveria ser desvalorizada? a real é que a literatura popular tem um papel super importante na cultura, oferecendo histórias que são acessíveis e relevantes pra muita gente.
ignorar isso só pra manter uma distinção de status é perpetuar uma divisão desnecessária e elitista.
a responsabilidade do consumo literário: tá na nossa mão
enquanto muita gente adora culpar o booktok ou seus algoritmos pelo suposto declínio da qualidade literária, a verdade é que, no fim das contas, a responsabilidade pelo que a gente lê é toda nossa.
os algoritmos das redes sociais, como o booktok, são feitos pra maximizar o engajamento, promovendo o conteúdo que provavelmente vai bombar. mas isso não significa que a gente tá preso às sugestões deles. como leitores, temos a capacidade — e a responsabilidade — de ir além das recomendações óbvias e explorar uma variedade maior de livros. isso pode significar buscar livros que não estão na moda, apoiar autores independentes ou simplesmente se desafiar a ler algo que tá fora da sua zona de conforto.
diversificar nossas leituras não é só uma questão de escolher livros “sérios” ou “literários”. é sobre buscar histórias que nos desafiem, que façam a gente pensar de um jeito diferente ou que ofereçam novas perspectivas. isso pode incluir desde os clássicos até a literatura contemporânea de autores menos conhecidos, passando por diferentes gêneros e culturas.
quando adotamos uma postura mais ativa e crítica em relação ao que lemos, não só melhoramos nossa experiência de leitura, mas também contribuímos para um ecossistema literário mais saudável e diverso. em vez de culpar as plataformas ou as tendências populares, a gente deveria focar em ser leitores mais conscientes e curiosos, sempre buscando expandir nossos horizontes literários.
no final das contas, enquanto o booktok tem, sim, sua influência no mercado literário de hoje, a responsabilidade final pelas nossas escolhas de leitura é toda nossa. ao nos tornarmos consumidores mais conscientes, podemos garantir que a literatura continue a crescer em toda a sua diversidade e profundidade.
👀 e por falar em autoras que você precisa conhecer
Há dez anos, Hannah Maël fugiu, mas agora precisa se infiltrar na fortaleza do inimigo para evitar uma profecia sombria. Última sobrevivente de seu clã, ela retorna para proteger o legado de sua família, escondendo sua verdadeira identidade entre aqueles que destruíram seu povo.
Disfarçada, Hannah se aproxima de Noa Rariff, herdeiro da dinastia rival. O que deveria ser apenas um jogo estratégico se torna um dilema perigoso quando a atração entre eles cresce. Dividida entre sua missão e um sentimento proibido, ela precisará decidir: seguir seu dever ou arriscar tudo por alguém que pode ser sua ruína?
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🏷 nota de rodapé
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Tudo aquilo que deixa de ser sobre e para o homem, automaticamente é algo inferior. Eu acho muito engraçado (para não dizer trágico) quando enchem a boca para falar que livros hot são ruins, rasos e tudo mais do mesmo, ai você vai ver a lista de leitura do abençoado e é aquele check list do pacote básico de todo homem leitor 😂
eu acho muito curiosa a conversa 'intelectualidade' vs. 'cultura popular', porque eu sinto que tem o único objetivo de alienar e desmascarar privilégios, sem acrescentar nada de útil e valoroso pra conversa. 'bom' e 'ruim' são conceitos tão relativos e não dá pra julgar um leitor que lê Saramago nem aquele que só lê Rebecca Yarros. a leitura é útil (e política) em todas as camadas. pra mim essas conversas e críticas seguem sendo uma cortina de fumaça pro que assunto que realmente importa.