o tiktok está moldando o futuro da literatura?
explorando o impacto do booktok no mercado editorial
esta publicação faz parte da newsletter plot persuits, onde eu compartilhos minhas leituras e reflexões sobre a comunidade leitora, toda terça-feira, às 8h.
o booktok explodiu como um fenômeno inesperado no mundo editorial, reconfigurando as regras do jogo e moldando o mercado de uma maneira que poucos poderiam ter antecipado.
o que começou como uma comunidade informal de leitores apaixonados por compartilhar suas descobertas literárias se transformou em uma força poderosa que move não apenas as escolhas dos leitores, mas também as engrenagens do próprio mercado editorial.
a ascensão meteórica de autores como colleen hoover, cujos livros passaram de nichos a best-sellers globais graças à viralidade, é apenas um exemplo do impacto que essa plataforma tem gerado nas prateleiras de livrarias e nas estratégias de marketing de editoras ao redor do mundo.
quando analisamos o alcance do booktok no cenário editorial atual, se torna evidente que editoras e autores estão se adaptando rapidamente a esse novo ecossistema.
livros que viralizam no tiktok frequentemente experimentam um aumento expressivo nas vendas, muitas vezes transformando obras relativamente desconhecidas em fenômenos culturais globais. as editoras não só estão cientes dessa tendência, como também passaram a estruturar suas campanhas de marketing em torno dela, buscando parcerias com influenciadores e ajustando suas publicações para garantir que estejam em sintonia com o que o algoritmo favorece.
os livros que ganham tração no booktok costumam compartilhar características comuns: são emocionalmente envolventes, com narrativas que capturam a imaginação e ressoam com o público jovem. gêneros como romantasia e ficção distópica, com tramas que misturam romance e fantasia, têm dominado as conversas na plataforma. percebendo esse padrão, as editoras ajustam suas campanhas e lançam edições especiais, muitas vezes com capas esteticamente alinhadas às tendências visuais da plataforma. em alguns casos, até o conteúdo dos próprios livros é influenciado, com mudanças sutis nas narrativas para maximizar seu apelo viral.
nessa nova dinâmica, o booktok não é apenas uma plataforma de divulgação, mas um dos principais motores de decisão no planejamento editorial, se colocando no centro da estratégia das editoras.
o booktok é realmente para todos?
o booktok pode até ser uma ferramenta poderosa pra promover livros e reacender a paixão pela leitura, especialmente entre os mais jovens, mas os dados sugerem que a diversidade ainda está longe de ser uma realidade nesse universo.
segundo um relatório da pen america, a representatividade de autores não-brancos continua limitada nas grandes plataformas digitais, e sim, estamos falando do queridinho tiktok também. enquanto autores como brit bennett com “metade perdida” e tomi adeyemi com “filhos de sangue e osso” conseguiram uma visibilidade aqui e ali, o fato é que a maioria das recomendações virais ainda favorece autores brancos e gêneros como romantasia e ficção jovem – porque, convenhamos, é o que viraliza mais fácil e dá aquele gás nos números de vendas.
pra piorar, um estudo da nielsen bookdata mostra que, mesmo sendo uma plataforma de grande alcance, o algoritmo do tiktok está mais preocupado em impulsionar conteúdos que garantam viralidade rápida – ou seja, romances leves e tramas mastigáveis – deixando de lado as vozes que trazem temas mais densos ou autores que não seguem a fórmula do sucesso rápido.
autores independentes e marginais têm que lutar dobrado pra romper essa bolha, porque a lógica do algoritmo simplesmente não joga a favor de histórias que demandam uma digestão mais lenta.
e essa história de falta de diversidade não é exatamente novidade, né?
a gente já viu isso acontecendo no mercado tradicional também. basta dar uma olhada na lista dos mais vendidos do new york times pra perceber que lá, pelo menos, há uma diversidade maior de autores do que nas recomendações do booktok. isso levanta uma questão:
será que o booktok está realmente trazendo algo novo e diverso para o mundo literário, ou está repetindo aquele velho ciclo onde sempre os mesmos tipos de histórias ganham destaque enquanto o restante fica na periferia?
autores como brit bennett e tomi adeyemi, que colocam questões como racismo, identidade e resistência no centro de suas histórias, conseguiram um espacinho no radar, mas vamos ser sinceros: não é nem de perto o mesmo nível de viralidade que vemos nos romances fantasiosos e escapistas que dominam o feed do booktok.
enquanto a romantasia continua ditando o que é sucesso, essas histórias que te fazem parar pra pensar ficam ali, na margem, esperando por atenção. porque, né, quem tem tempo pra pensar em questões raciais quando tem uma fada guerreira se apaixonando por um príncipe sombrio?
editoras independentes e o mercado de autopublicação
o booktok, embora muitas vezes visto como um trampolim para grandes editoras e best-sellers de sempre, também tem sido uma verdadeira bênção para editoras independentes e autores que escolheram o caminho da autopublicação.
o poder dessa plataforma é que ela democratiza o marketing literário: autores que, em outros tempos, estariam à mercê de grandes editoras para ter alguma chance de visibilidade, agora podem se conectar diretamente com seus leitores e construir uma base fiel sem gastar uma fortuna. um relatório da publishers weekly mostrou que as vendas de livros autopublicados aumentaram 27% em 2022, com parte desse crescimento creditado diretamente ao impacto do tiktok.
autores independentes encontraram no booktok um verdadeiro canal de marketing gratuito, capaz de alcançar milhões de leitores ávidos, tudo sem a necessidade das grandes campanhas publicitárias tradicionais.
tl swan é um ótimo exemplo dessa nova dinâmica: conhecida por suas obras de romance contemporâneo, swan começou sua carreira como autora autopublicada, publicando seus livros diretamente na amazon. graças ao booktok, suas obras viralizaram e conquistaram um público massivo. em 2021, seu livro the takeover se tornou um sucesso no tiktok, fazendo com que ela atingisse as listas de mais vendidos e ganhasse visibilidade global, superando até autores consagrados em vendas. seu sucesso é uma prova viva de como o tiktok está revolucionando a autopublicação, permitindo que autores independentes alcancem audiências que antes eram inalcançáveis sem o respaldo de grandes editoras.
mas, claro, nem tudo são flores.
editoras independentes frequentemente relatam que, embora o booktok ofereça uma exposição sem precedentes, é difícil competir com o poder financeiro das grandes editoras. enquanto editoras menores dependem da viralidade orgânica, gigantes da indústria podem pagar influenciadores ou lançar campanhas agressivas para garantir que seus títulos sejam promovidos nas redes sociais. essa disparidade cria um abismo onde autores independentes precisam apostar na autenticidade e contar com a sorte para que suas histórias ressoem com o público certo.
por outro lado, algumas editoras menores estão encontrando formas criativas de navegar nesse novo cenário.
a tor books, uma editora especializada em ficção científica e fantasia, conseguiu viralizar alguns de seus títulos no booktok ao apostar em parcerias autênticas com influenciadores literários que, de fato, se conectam com o conteúdo que estão promovendo. essa abordagem, baseada na confiança e no entusiasmo genuíno, tem mostrado que editoras menores podem, sim, competir nesse jogo, desde que saibam explorar o booktok de maneira inteligente.
além disso, o booktok abriu espaço para nichos literários que normalmente não ganham tanta atenção nas prateleiras das grandes livrarias. gêneros como poesia, ficção queer e memórias de autores marginalizados estão ganhando uma nova audiência, provando que a viralidade pode, em alguns casos, funcionar como uma ferramenta de inclusão no mercado editorial.
o impacto do booktok vai muito além da superfície: ele está dando aos autores independentes a chance de competir de igual para igual, ainda que as regras do jogo sejam desiguais. a questão agora é como essas editoras e autores vão continuar a explorar esse novo território sem serem engolidos pelas dinâmicas de mercado que, por vezes, ainda favorecem os grandes tubarões.
criatividade em xeque?
um dos efeitos colaterais mais preocupantes dessa nova era dominada pelo booktok é como os escritores estão se moldando para atender às expectativas da plataforma.
a pressão é real.
escritores que, antes, tinham liberdade para explorar temas inusitados ou construir narrativas fora da caixa agora sentem uma necessidade quase desesperada de criar histórias que tenham o selo de aprovação viral. e sabe o que acontece com isso? a repetição de fórmulas que já sabemos que funcionam, enquanto a inovação e a originalidade vão parar no fundo da gaveta.
é o famoso “vai onde o algoritmo manda”.
se o que está bombando são histórias de romantasia com aquele toque dark e personagens que parecem ter saído de um casting de seres sobrenaturais, então é melhor você começar a pensar em adicionar uns vampiros ou uma fada sombria na sua história, mesmo que a ideia original fosse completamente diferente. é como se o autor estivesse deixando de ser o dono da sua própria criação para seguir as regras não ditas da viralidade.
o problema? isso pode ser um verdadeiro veneno para o processo criativo.
essa submissão às tendências pode transformar a arte de contar histórias em uma linha de montagem previsível. e, quando tudo começa a soar como um grande déjà vu literário, a magia que fez o booktok ser tão atrativo começa a perder o brilho. a criatividade fica em segundo plano, substituída por plots reciclados, reviravoltas forçadas e personagens fabricados para “gritar” viralidade. o que a gente vê são autores cada vez mais preocupados em atender à demanda instantânea, em vez de explorar suas próprias vozes e narrativas originais.
e sejamos honestos: isso é uma bomba-relógio.
o que acontece quando todos os escritores estão escrevendo a mesma coisa? saturação total. o mercado se enche de histórias idênticas, com personagens que parecem clones e tramas que já vimos mil vezes. o efeito inicial do booktok, que deu aquele gás na indústria literária, pode começar a se desgastar à medida que os leitores percebem que estão consumindo variações da mesma coisa. o que era novo e emocionante vira repetitivo e cansativo.
é claro que os escritores querem ser lidos, mas a que custo? vale a pena sacrificar a inovação e a autenticidade só para garantir uns minutos de fama digital?
o desafio aqui é grande: como equilibrar a demanda por histórias virais sem perder a essência criativa? porque, no fim das contas, o que mantém a literatura viva é justamente essa capacidade de surpreender, de nos tirar da zona de conforto, e não de nos entregar a mesma narrativa, só que com uma capa nova.
o futuro da crítica literária na era do booktok
a transformação da crítica literária talvez seja um dos aspectos mais fascinantes (e polêmicos) desse fenômeno chamado booktok.
enquanto, no passado, a crítica profissional publicada em veículos de peso como o new york times ou o guardian era quem dava as cartas, hoje o cenário mudou drasticamente. estamos assistindo a uma migração massiva da autoridade literária para as redes sociais, onde a opinião popular — muitas vezes baseada em reações emocionais e resenhas rápidas — começa a superar a crítica formal.
é o tipo de revolução que deixa os críticos tradicionais suando frio.
segundo uma pesquisa da nielsen bookdata, 64% dos leitores da geração z afirmam confiar mais nas recomendações de contas da rede social do que na opinião de críticos literários consagrados. isso escancara uma mudança radical: a crítica deixou de ser aquela análise profunda e técnica sobre temas, estrutura narrativa e valor artístico, e virou uma espécie de “opinião de bar” virtual. no fundo, é como se o booktok tivesse transformado cada leitor em um potencial crítico literário — só que com uma pegada bem mais emocional e, vamos admitir, bem mais divertida.
um exemplo que precisa ser citado é a kateslibrary, que conquistou um público massivo com suas críticas literárias de 30 segundos. os vídeos dela frequentemente atingem milhões de visualizações, e sua influência sobre o mercado é tão grande que suas opiniões têm, muitas vezes, mais impacto sobre as vendas de livros do que as resenhas tradicionais do new york times.
é como se o selo de aprovação do booktok valesse mais do que qualquer recomendação da crítica literária “séria”.
mas, como tudo na vida, essa mudança tem seus dois lados.
por um lado, é maravilhoso ver mais gente lendo, e o engajamento com livros aumentou significativamente entre os jovens graças a essa forma mais acessível e descontraída de crítica. afinal, quem resiste a um vídeo de 30 segundos que faz você chorar, rir e correr para comprar o livro? por outro lado, esse novo tipo de crítica está começando a empobrecer o debate literário.
a velha crítica literária, que mergulhava na qualidade narrativa, analisava com profundidade os temas e discutia o valor artístico da obra, está sendo gradualmente substituída por resenhas focadas em plots envolventes e personagens “relacionáveis”.
o risco aqui é claro: se continuarmos nesse caminho, podemos acabar reduzindo a literatura a um simples produto de consumo rápido, onde o que importa é o quão “viciante” é a história, e não o quanto ela tem a nos dizer sobre o mundo, a vida ou nós mesmos. o perigo é transformar a leitura em algo puramente funcional, quase descartável. estamos começando a medir o valor de um livro pelo número de visualizações que ele gera, e não pela sua capacidade de nos desafiar ou nos transformar.
e isso, convenhamos, é um caminho um tanto perigoso.
no fim das contas, o futuro da crítica literária vai depender de como equilibramos essas duas realidades: a acessibilidade e a emoção do booktok, com a profundidade e a reflexão da crítica tradicional.
se conseguirmos misturar o melhor dos dois mundos, talvez possamos criar um cenário literário mais vibrante e diverso. mas, se continuarmos a privilegiar apenas o que viraliza, podemos estar cavando a cova da crítica literária como a conhecemos.
o fim ou o futuro da narrativa?
a pergunta que não quer calar: o booktok está salvando a literatura ou destruindo tudo o que amamos nela?
a resposta, como qualquer bom plot twist, não é tão simples.
por um lado, o booktok está literalmente colocando livros nas mãos (ou melhor, nos carrinhos online) de uma geração que parecia ter esquecido o que era folhear uma página. ele transforma a leitura em algo social, quase como um gigantesco clube do livro onde todo mundo está surtando ao mesmo tempo sobre a mesma reviravolta dramática. nesse sentido, o booktok é o herói que a literatura precisava. afinal, ver jovens discutindo livros com tanta paixão é algo que a gente não via há tempos.
mas aí vem o “mas” que ninguém queria: essa mesma plataforma que salva, também pode estar simplificando demais o que é a experiência literária.
os livros que fazem sucesso no booktok são, na maioria das vezes, aqueles que têm plots rápidos, reviravoltas dramáticas e personagens fáceis de amar (ou odiar). é aquela leitura rápida que você consome numa sentada e já quer passar pra próxima, sem muito tempo pra refletir sobre o que acabou de ler. tem algo errado nisso? claro que não.
mas será que a literatura vai sobreviver se nos limitarmos apenas a essas narrativas mais “fáceis”?
a real é que o booktok, ao mesmo tempo em que dá voz a muitos livros, pode estar achatando o espaço para histórias mais complexas e profundas. estamos vendo uma tendência onde autores se sentem pressionados a escrever para agradar o algoritmo, adicionando reviravoltas forçadas, personagens que gritam “estou pronto para virar viral” e romances fáceis de shippar. e, com isso, aquele tipo de narrativa mais lenta, mais introspectiva – que te faz pensar e repensar dias depois de virar a última página – pode acabar sendo deixada de lado.
então, o que estamos vendo? o fim da narrativa como conhecemos ou a evolução para algo novo?
talvez seja um pouco dos dois.
o futuro da literatura vai depender de como equilibramos essa nova onda de consumo rápido com a profundidade que faz a leitura ser mais do que um mero entretenimento passageiro. porque se tudo o que queremos é o próximo plot twist, sem tempo para respirar e digerir o que lemos, talvez a gente esteja sacrificando a narrativa rica e complexa em nome da viralidade.
o desafio é encontrar um jeito de manter o que é valioso na literatura enquanto aproveitamos o que o booktok tem de melhor: o entusiasmo, a conexão com a comunidade e a paixão por contar (e compartilhar) histórias. o futuro da narrativa pode não estar em risco, mas está certamente sendo transformado – e cabe a nós decidir se essa transformação é para melhor ou se estamos apenas surfando uma onda que pode quebrar a qualquer momento.
então, na próxima vez que alguém vier com o discurso de que o tiktok está arruinando a literatura, é bom lembrar: o tiktok é apenas uma ferramenta, não o dono da história. quem decide o futuro da leitura somos nós. somos nós que temos o poder de usar essa nova dinâmica para escrever (literalmente) o futuro das histórias que vão ecoar por gerações.
👀 eu estou obcecada por esses livros
de férias com você: convidou o melhor amigo pra fazer uma viagem e tentar fazer as pazes mas dá tudo errado. e o melhor? vai virar filme na netflix.
o duque que eu conquistei: o romance de época com bdsm que você não sabia que precisava na sua estante.
o circo da noite: eles são inimigos jurados mas não vai ser isso que vai impedir eles de se apaixonarem um pelo outro.
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apenas jovens senhoras lendo um bom livro, viu? porque fazer amizade depois dos 30 é muito difícil e a lombar já não é mais como era antes. sendo assim, você topa um encontro quinzenal de fofocas, surtos literários e heróis de moral duvidosa? é só clicar no botão abaixo.
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você leu até o fim! ❤ eu sei que essa newsletter é meio inconstante, mas sabe o que não é? as minhas redes sociais. então não deixa de me acompanhar em outros canais para não perder os meus surtos literários!