leitura dinâmica, é leitura?
quem não gostaria de devorar um livro em poucas horas, não é?
esta publicação faz parte da newsletter plot persuits, onde eu compartilhos minhas leituras e as minhas crises existenciais, toda terça-feira, às 8h.
desde que eu comecei a criar conteúdo na internet, uma das perguntas que mais me fazem é se eu faço a tal da leitura dinâmica. não por ser uma habilidade útil, mas porque ninguém acredita que uma pessoa é capaz de ler mais de 50 livros em um ano sem ter algum tipo de habilidade especial.
pra matar a sua curiosidade: não, eu não faço leitura dinâmica.
eu só realmente gosto muito de ler e, ao contrário de muitas pessoas que leem em doses homeopáticas, eu me jogo de cabeça no meu vício, devorando um livro atrás do outro.
a leitura dinâmica é uma prática vendida como a solução mágica para o excesso de informação do nosso dia a dia. quem não gostaria de devorar um livro em poucas horas, não é? mas, quando olhamos mais de perto, percebemos que essa ideia de acelerar a leitura é como tentar correr por uma galeria de arte. você até pode ver todos os quadros, mas vai perder a chance de entender o que realmente está diante dos seus olhos.
a leitura que passa, mas não toca
vamos ser honestos: tentar ler a 1000 palavras por minuto é como tentar ouvir um sussurro em meio a uma tempestade. a ciência é clara quanto a isso. estudos mostram que quando você passa das 300 a 400 palavras por minuto, a sua compreensão começa a despencar. sabe o que isso significa? você até passa pelos parágrafos, mas o que fica na sua cabeça é pouco mais do que um borrão de ideias.
e isso, minha cara leitora, é como se você estivesse passeando pelo mundo literário com uma venda nos olhos. aquela frase marcante, a construção cuidadosa de uma ideia, a tensão crescente em um diálogo... tudo isso se perde. a leitura dinâmica te dá a ilusão de estar informado, mas a realidade é que você está apenas arranhando a superfície.
se ler é viajar sem sair do lugar, a leitura dinâmica é como pegar um avião e dormir o voo inteiro. você chega ao destino, mas nem lembra como foi o caminho. a verdade é que a leitura não é só sobre informação; é sobre sentir. ler um romance, por exemplo, é se deixar levar pelos personagens, suas emoções, seus dilemas. mas se você está apenas passando os olhos rapidamente, como esperar que essas emoções realmente te toquem?
a arte de ver, mas não enxergar
um estudo apontou que ler devagar, saboreando cada palavra, está diretamente ligado ao prazer da leitura. e faz sentido, né? você já tentou assistir a um filme em velocidade 2x? você até entende a história, mas a música não te emociona, os diálogos perdem a força, e os silêncios — ah, os silêncios — deixam de existir. o mesmo acontece com a leitura dinâmica.
a leitura dinâmica é uma promessa perigosa, que te faz acreditar que está adquirindo conhecimento, quando na verdade está apenas passando por ele como um turista apressado. ler devagar é o que permite a reflexão, aquele momento em que você para e pensa: “será que isso faz sentido? como isso se conecta com o que eu já sei?” mas quando você está correndo, não há tempo para essas pausas. e sem reflexão, o conhecimento que você adquire é raso, quase como uma poça d'água que seca ao primeiro sinal de sol.
a verdade por trás do mito
agora, vamos falar de algo ainda mais sério: a desvalorização da leitura.
se começarmos a tratar a leitura como algo que deve ser feito rapidamente, como uma lista de tarefas para ser riscada, estamos perdendo de vista o verdadeiro valor do ato de ler. um estudo mostrou que focar demais na velocidade pode, na verdade, afastar os estudantes do texto, fazendo com que a leitura se torne uma obrigação, em vez de um prazer.
é como se estivéssemos transformando a leitura em fast food: rápido, fácil, mas sem sustância. e no final, isso empobrece a cultura, porque a leitura profunda, aquela que te faz pensar e sentir, é substituída por uma leitura superficial, sem alma.
enquanto os gurus da leitura dinâmica vendem a ideia de que você pode ler mais em menos tempo, os pesquisadores estão aqui para te dizer que isso simplesmente não funciona. paul nation, da universidade de victoria, mostrou que técnicas como eliminar a subvocalização — aquela voz interna que lê junto com você — na verdade prejudicam a compreensão, especialmente em textos mais complexos.
a leitura dinâmica pode até te dar a ilusão de eficiência, mas a verdade é que você está trocando qualidade por quantidade. e isso, em se tratando de leitura, é uma troca péssima.
a leitura dinâmica como estratégia de manipulação
e, por fim, precisamos falar sobre os criadores de conteúdo literário que promovem a leitura dinâmica como uma maneira de inflar suas credenciais. em um mundo onde o número de livros lidos parece ser o maior troféu, alguns optam por usar a leitura dinâmica para afirmar que devoram dezenas, até centenas de livros por ano. mas a que custo?
é como se estivessem te vendendo um livro com as páginas em branco: você pode passar por ele em minutos, mas no final, não leva nada consigo. ao usar essa prática para criar conteúdo mais rápido, esses criadores não só enganam seus seguidores, mas também estabelecem metas de leitura irreais, que acabam gerando ansiedade e um senso de inadequação na comunidade literária.
essa estratégia é desonesta e prejudicial, tanto para o leitor quanto para a própria comunidade literária. ela cria uma cultura de superficialidade, onde a quantidade de livros lidos é valorizada em detrimento da qualidade do engajamento com cada obra. o que poderia ser um espaço para discussões profundas e reflexivas se transforma em uma corrida por números, onde a profundidade é sacrificada no altar da velocidade.
no final das contas, a leitura dinâmica é como uma promessa quebrada. parece boa na teoria, mas na prática, te deixa com um gosto amargo de superficialidade. ao sacrificar a compreensão, a emoção, e a reflexão, ela tira tudo o que há de melhor na leitura. e pior, ela desvaloriza o ato de ler, o transformando em uma tarefa mecânica.
então, da próxima vez que alguém te disser que você pode ler mais rápido, lembre-se: o que realmente importa é o que você leva da leitura. e para isso, senhoras, você vai precisar de tempo. porque ler, assim como viver, é sobre a jornada, e não apenas sobre o destino.
👀 romances que você não pode deixar de ler
tudo que deixamos inacabado: vai te destruir por dentro, é sério. eu nunca amei tanto quatro personagens em toda a minha vida.
nem te conto: imagina que seu noivo decide terminar com você pra casar com a melhor amiga e aí você se vê obrigada a ir morar com o ex da mulher que roubou o seu noivo… é isso.
noiva: prometida em casamento para um lobisomen apenas para manter a paz entre as espécies, mas no final do dia não dá pra ignorar o desejo que existe entre eles.
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🏷 nota de rodapé
você leu até o fim! ❤ eu sei que essa newsletter é meio inconstante, mas sabe o que não é? as minhas redes sociais. então não deixa de me acompanhar em outros canais para não perder os meus surtos literários!
cara, eu tenho pensado tanto sobre isso, sabe? porque é EXATAMENTE isso. acho que como tudo na nossa cultura, a gente tem valorizado muito mais a velocidade do que a qualidade das coisas e a leitura tá caindo nessa fórmula do 'faça mais em menos tempo' como se isso fosse uma medalha de honra que a gente carrega por aí. é tipo o aumento das buscas por 'como escrever um livro usando o chatgpt'. escrever um livro leva tempo, paciência, um vai e vem criativo que é transformador pra todo, mas principalmente pro escritor. correr e acelerar esses processos não é benéfico e quem diz que é com certeza tá mentindo.