eu vou esquecer.
um dia eu vou estar deitada com a cabeça no seu peito, sentindo seus dedos deslizarem pelo meu cabelo , e eu vou esquecer. você vai me contar sobre o seu dia no trabalho, eu vou implicar com a forma como você fala “mano” , e você vai sussurrar alguma coisa gostosa no pé do meu ouvido , e eu vou esquecer.
eu vou esquecer que essa é uma mentira que eu cuidadosamente criei pra mim.
eu vou esquecer que eu não preciso te contar do show no final do mês, ou quando eu for para o bar com todos os meus amigos para beber. eu vou esquecer que não devo sentir o nó na boca do meu estômago por causa dos milhares de nomes no seu telefone , e que eu não posso entrelaçar minha mão na sua, mesmo sendo um movimento quase que natural. eu vou esquecer que não posso te abraçar como se você fosse meu, porque, no final do dia, você não é.
eu. vou. esquecer.
é perigoso quando você constrói castelos de areia com alguém.
você se entorpece com uma falsa sensação de realidade, onde doses homeopáticas de pizza com brigadeiro , e conversas até o dia amanhecer te fazem acreditar que tudo é possível, mesmo que a boca do seu estômago diga o contrário. a linha entre o que é uma verdade e uma mentira é retorcida e, aos poucos, nenhum de nós sabe dizer quais risadas são minhas e quais não são. quais promessas você vai quebrar e quais você vai cumprir?
em quais palavras eu posso acreditar e quais foram ditas especialmente pra mim?
eu não sei.
e todas as vezes que você me deitar no seu peito e sussurrar “eu posso explicar?”, eu vou esquecer. eu vou me deixar levar pela sensação gostosa da ponta dos seus dedos dançando pela minha cintura , vou engolir os meus medos sempre que você falar “eu te amo” quando eu não estiver esperando. e vou diluir o aperto no meu peito sempre que seu corpo quente esquentar a minha pele fria.
eu não vou saber diferenciar a minha intuição da sensação gostosa na boca do meu estômago sempre que você me abraça , e eu vou mentir pra mim, muito melhor do que você vai, porque no fundo nós dois sabemos que eu prefiro viver a ilusão de você do que não te viver jamais.
é cruel, não é?
um coração apaixonado que segura uma rosa pelos espinhos. você sabe que vai se machucar, mas se convence de que a rosa é bonita demais para ser deixada para trás. “as feridas cicatrizam”, você diz pra si mesma, vendo o mesmo corte se abrir de novo e de novo. mas é melhor uma mão machucada do que a agonia da ausência, não?
eu vou esquecer.
convenientemente.
das perguntas que você evita responder e todas as coisas complicadas que não consegue me explicar. do apartamento do outro lado da cidade e da vida da qual eu não faço parte. da mulher na sua cama , que eu nunca vou saber o nome , e de todas as verdades que eu nunca fiz muita questão de descobrir.
eu vou ser o seu segredo, mas na luz de penumbra do meu quarto, ao som de “trouble i'm in”, eu vou esquecer e me fazer de verdade absoluta. eu vou me apegar ao som da sua voz, ao cheiro viciante do seu perfume e aos quatro tons de voz diferentes que você usa quando estamos conversando. eu vou encaixar minhas pernas na sua cintura e me afogar no castanho avermelhado dos seus olhos , e esquecer das consequências das minhas próprias escolhas.
você vai me amar por algumas horas , e eu vou esquecer.
porque, se eu me lembrar, eu vou embora.
e eu não estou pronta para abrir mão de você.
pra não dizer que você leu isso tudo atoa, uma playlist
em honra aos corações partidos e aqueles que amam mesmo quando sabem que não deveriam. eu sei, vocês sabem.
🏷 nota de rodapé
você leu até o fim! ❤ eu sei que essa newsletter é meio inconstante, mas sabe o que não é? as minhas redes sociais. então não deixa de me acompanhar em outros canais para não perder os meus surtos literários!