adeus, por enquanto
para quem gosta de história de amor modernas, espertas e melancólicas.
e se o amor continuasse além da vida?
eu posso ler esse livro quantas vezes for e eu nunca consigo perder a sensação de que o estou lendo pela primeira vez.
você provavelmente nunca ouviu falar de laurie frankel. os livros dela não ficaram muito populares no brasil quando foram lançados, mas eu tive a sorte de colocar as mão em “o atlas do amor” e alguns outros trabalhos dela por acidente, mas foi “adeus, por enquanto” (um dos primeiros livros que eu comprei quando abriu uma livraria na minha cidade) que ficou comigo pra sempre.
o livro acompanha sam elling, um programador talentoso do mit, que cria um software revolucionário capaz de gerar projeções perfeitas de pessoas falecidas a partir de suas comunicações online passadas. quando sua namorada, meredith, perde sua amada avó, sam usa seu programa para ajudá-la a lidar com o luto.
eles conseguem “reviver” a avó de meredith digitalmente, proporcionando conforto e uma oportunidade única de despedida. no entanto, a invenção rapidamente se torna um fenômeno global, levantando questões éticas e emocionais complexas.
sam e meredith se veem enfrentando não apenas os desafios de seu relacionamento sob essa nova realidade, mas também as implicações morais de sua criação, especialmente quando sam se vê na posição de precisar usar seu próprio software de maneiras que nunca imaginou.
a percepção sobre o luto
a primeira vez que eu li esse livro foi em 2012 e eu nunca tinha experienciado luto na minha vida, talvez não da forma que a maior parte das pessoas. eu nunca realmente entendi o significado da ausência até a minha avó falecer e eu ter aquela sensação de que o número de pessoas que conseguiam entender a minha existência nesse mundo diminuiu drasticamente.
eu ainda tenho muito claro na minha memória a última vez que estive com ela. dá foto que eu tirei enquanto assistíamos a final da copa do mundo e ela ria porque eu estava fazendo alguma piada sobre qualquer um dos times que estavam jogando.
estou contando isso porque laurie frankel nos convida a uma reflexão profunda sobre a maneira como lidamos com o luto em uma era dominada pela tecnologia. a capacidade do software criado por sam elling de recriar digitalmente pessoas falecidas a partir de suas comunicações online oferece uma perspectiva diferente da que conhecemos: e se pudéssemos manter algum tipo de contato com aqueles que perdemos?
"quem as pessoas pensam que são e o que elas pensam que querem não é realmente quem elas são ou o que elas querem."
essa ideia desafia nosso entendimento tradicional do luto, que normalmente envolve a aceitação da perda e o aprendizado de como viver com a ausência da pessoa. a tecnologia, neste caso, parece oferecer um caminho alternativo, um meio de adiar a despedida e manter viva a presença da pessoa que se foi. porém, essa possibilidade vem acompanhada de uma série de questionamentos éticos e emocionais:
por um lado, a oportunidade de se despedir adequadamente ou de dizer as palavras que ficaram não ditas pode ser vista como um conforto inestimável, uma ajuda para aliviar a dor aguda do luto. afinal, quem não gostaria de poder mudar suas “últimas palavras” com alguém ou, minimamente, ganhar mais um momento?
por outro, isso pode impedir a aceitação da realidade da morte e o processo natural de cura. a presença digital de um ente querido pode se tornar um substituto que nos impede de enfrentar a realidade de sua ausência. porque eu precisaria me despedir se eu posso manter esse contato, mesmo que “falso” com alguém que amo?
a narrativa de frankel levanta questões sobre a autenticidade das relações e memórias. uma versão virtual pode realmente substituir a presença física e emocional de alguém? até que ponto essas interações virtuais são um reflexo verdadeiro da pessoa que se foi, e como isso afeta as memórias e o legado deixado por ela?
o realismo do romance
o romance em “adeus, por enquanto” também é significativo por sua representação da intimidade e vulnerabilidade. os personagens são retratados com uma honestidade crua, lidando com suas imperfeições, medos e desejos. a abordagem realista e humana que a autora traz para o enredo, fortalece a conexão entre os personagens e quem lê, tornando mais fácil para que a gente se conecte com a história contada.
ao lidar com a morte e o luto, os nossos protagonistas são forçados a confrontar questões sobre a natureza do amor, o valor das memórias e a importância da presença física e emocional. este contexto faz com que a parte romântica do livro seja mais complexa e intensa do ponto de vista de desenvolvimento emocional, algo que são poucos livros com temas parecidos, conseguem entregar.
"...apenas para estar com você. É isso que você faz por mim. você simplesmente supera tudo mais. é assim que o amor deve ser, eu acho. eu acho, é isso que o amor significa."
além disso, vale dizer que o livro explora o impacto emocional da tecnologia nas relações amorosas.
a possibilidade de manter uma forma de contato com entes queridos falecidos coloca em questão o que significa amar e se conectar com alguém. existe uma linha muito tênue entre o desejo de manter vínculos com o passado e a necessidade de avançar e formar novos relacionamentos e é essa dinâmica que carrega o romance entre sam e meredith do começo ao fim.
escrita e narrativa
um dos pontos fortes da escrita da laurie frankel é a sua habilidade de construir uma narrativa complexa e, ao mesmo tempo, cheia de emoção. uma vez que você começa a ler, é difícil conseguir não se envolver com os altos e baixos do relacionamento dos protagonistas, a dor do luto da meredith, a sensação de impotência de sam.
é tudo muito, ao mesmo tempo que maravilhoso.
frankel tem um dom para criar personagens realistas e tridimensionais, cujas lutas internas e relações interpessoais formam a espinha dorsal da história. isso faz com que o livro seja não apenas uma exploração de conceitos tecnológicos, mas também um estudo íntimo sobre o amor, a perda e a resiliência humana. ela consegue tratar de temas complexos e, às vezes, sombrios, com uma sensibilidade e um toque de leveza que mantêm o leitor preso na leitura do começo ao fim.
me conta nos comentários se você gostou da premissa do livro e se você acharia uma boa ideia poder conversar com entes queridos mesmo pós-morte.
achadinhos do kindle unlimited
The Graham Effect, da Elle Kennedy: gigi graham tem três metas: entrar na seleção nacional de hóquei feminino, ganhar ouro olímpico e superar a fama de seu pai. ela precisa da ajuda de luke ryder, um jogador talentoso, porém arrogante. ryder, enfrentando problemas em sua equipe e na carreira, aceita ajudar gigi em troca de um favor. enquanto trabalham juntos, eles lutam contra uma forte atração mútua, arriscando-se em um jogo perigoso de sentimentos e ambições.
There Is No Devil, da Sophie Lark: cole e mara, profundamente envolvidos em um relacionamento, enfrentam o perigo quando alastor shaw, um assassino cruel, mira em mara para atingir cole. enquanto cole luta para protegê-la, mara precisa encontrar forças para se defender.
Unsteady, da Peyton Corinne: rhys, um jogador de hóquei traumatizado, e sadie, uma patinadora com problemas, formam um vínculo inesperado após ela ajudá-lo durante um ataque de pânico. ambos lutam com seus próprios demônios internos, encontrando conforto um no outro enquanto enfrentam desafios emocionais e segredos.
sorteio quinzenal
vocês escolheram no canal de transmissão, então aqui está o próximo livro do nosso sorteio. não esqueça de ler o regulamento tá?
sal casillas, de 27 anos, enfrenta um choque de realidade quando seu ídolo de infância do futebol, reiner kulti, se torna seu treinador. o que era para ser um sonho se transforma em frustração, pois kulti é muito diferente do homem apaixonado e carismático que ela admirava. sal, que já superou uma paixão platônica por ele, luta com sentimentos conflitantes ao lidar com a versão atual de kulti, reclusa e sombria. a temporada promete ser desafiadora e cheia de tensões inesperadas.
o sorteio é válido de 14/11 a 2711 e o resultado será anunciado no instagram.
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eu não conhecia esse livro. a premissa não é minha vibe mas eu gostei bastante das observações sobre luto
Nossa, esse livro parece ao mesmo tempo doce e uma porrada. Se eu pudesse entrar em contato, minha lista ja esta feita e acho que seria uma das coisas que eu mais queria.