é desesperador pensar nas coisas não ditas
conversas entre amigos e a escrita mágica de sally rooney
tenho pensado muito sobre envelhecer: a forma como nossa perspectiva muda e como nossa necessidade de estabilidade, confiança e relacionamentos saudáveis se torna muito mais valorizada do que as montanhas-russas emocionais inebriantes e incendiárias de quando somos mais novos.
eu digo isso porque, ao reler conversas entre amigos, me dei conta de que os leitores que não estão familiarizados com a fase confusa, porém emocionante, de péssimas escolhas, egoísmo e aquele leve senso de invulnerabilidade podem não gostar muito desse livro.
mais uma vez, a combinação de vinho, sally rooney e instropeção me levou para uma jornada profunda e reflexiva sobre escolhas, arrependimentos e palavras não ditas.
então, aqui estamos.
conversas entre amigos não é um livro cheio de reviravoltas. também não é um enredo com muitos altos e baixos, segredos nas entrelinhas ou que faz você torcer pelo casal protagonitas como, em muitos casos, histórias similares conseguem fazer de maneira familiar.
e mesmo com tudo isso, ele é absolutamente brilhante do início ao fim.
“todo mundo está sempre passando por alguma coisa, não é? a vida é assim, basicamente. são apenas mais e mais coisas para passar.”
se você é um dos poucos que ainda não conhece essa história ou nem mesmo assistiu a adaptação da Hulu — com joe alwyn e alison oliver como protagonistas — conversas entre amigos é sobre erances e sua melhor amiga e ex-namorada bobbi. frances é atenciosa e legal (na definição menos usada da palavra), bobbi é efervescente e charmosa. eles encontram um casal, melissa e nick, e grande parte do romance é dedicado às mudanças nas maneiras pelas quais os quatro interagem.
a escrita de sally rooney é limpa, nítida e verdadeira.
eu sempre me fascino com a forma como ela constrói o silêncio de seus personagens: real e complexo. sua narrativa é repleta de descrições concisas e evocativas e, se você for como eu, quando começar a ler livros como esse, nunca mais vai querer parar.
eu me vi imersa nas dúvidas e inseguranças da protagonista, frances, desde a primeira página. produto de um pai alcoólatra, uma mãe cuidadora e a forma como foi criada, sua narrativa releva o quanto ela se sente como uma pessoa danificada que não merece nada.
“sofrer não me tornaria especial, e fingir não sofrer não me tornaria especial”
ser transparente em um mundo que constantemente encontra formas de conspirar contra você é, no mínimo, fascinante — o que torna frances uma das protagonistas mais intrigantes e interessantes que eu já li nos últimos tempos.
quando sally rooney usa o termo “conversas” no título do livro, ela não poderia ser mais vaga e contraditória.
frances, que não consegue admitir seus sentimentos por nick — nem para si mesma — diz: “podemos dormir juntos se você quiser, mas você deve saber que estou fazendo isso apenas ironicamente”. ou mais tarde: “eu simplesmente não tenho sentimentos sobre se você fxxde sua esposa ou não. não é um tema emotivo para mim.” enquando leitor, você tem a certeza de que é, e a constante automutilação que Frances impõe a si mesma — cutucando furiosamente as unhas, mordendo a parte interna da bochecha — revela a extensão em que sua repressão a prejudica.
ela se comporta de maneira estúpida, mas também está perdida, triste e extremamente inteligente, embora careça de inteligência emocional.eEla é a parte mais ativa do relacionamento, ao mesmo tempo em que deixa as coisas acontecerem sem agir. ela é incapaz de se comunicar de forma eficaz enquanto ainda é observadora.
é desesperador pensar nas coisas não ditas.
em todos os “está tudo bem” quando claramente não está. Frances segue uma melodia ditada por outras pessoas e, eventualmente, seus pés já não conseguem mais acompanhar o ritmo. de novo, desesperador, mas quantas vezes engolimos a seco uma verdade simplesmente para que o outro não tenha que lidar com ela?
“você acha que é o tipo de pessoa que pode lidar com alguma coisa e então acontece e você percebe que não pode.”
cada um dos quatro personagens principais parecia real de uma forma que os personagens fictícios raramente fazem, precisamente porque rooney permite que sejam contraditórios e, sim, às vezes desagradáveis. mas para mim esse desagrado nunca ofuscou a simpatia que sentia por todos eles.
eu consigo entender o quão condenável esse livro pode parecer para algumas pessoas, mas eu gostaria de te convidar a conhecer as entrelinhas do livro como um todo. é menos sobre o affair e muito mais sobre o entendimento e percepção do outro.
eu não torci para que que frances e nick ficassem juntos, mas ao mesmo tempo eu conseguia entender o que eles encontraram um no outro em meio as ansiedades que carregam dentro de si: uma tradução literal daquilo que, até então, não haviam encontrado palavras para.
e então, melissa.
eu tenho um desejo secreto de escrever sobre ela, e ela apenas. forma que a conhecemos através dos olhos de frances é completamente diferente da forma que nos surpreendemos com a mesma ao longo do livro. mais um motivo pelo qual eu nunca confio em conhecer alguém pelos olhos de terceiros — você nunca sabe quando alguém é capaz de te surpreender, se deixar.
se melissa fosse uma pessoa real e não um personagem secundário deste livro, eu teria um universos de perguntas. há momentos em que eu a odiei com todas as minhas forças, em outros, ela se tornou uma grande dúvida dentro da minha cabeça. mas nunca, em nenhum momento, menos fascinante.
“você tem vinte e um anos, disse melissa. você deveria estar desastrosamente infeliz.”
“estou trabalhando nisso”, eu disse.
talvez eu tenha feito casa nas páginas desse livro.
seja pela introspecção da narrativa ou pela sensação deliciosa das observações de Francis sobre tudo a sua volta. existe algo na escrita de sally rooney que me carrega para dentro de seus mundos sem que eu perceba.
e como todo leitor que chegou na última página desse livro: que final foi esse?
atenção para o sorteio!
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dessa vez foi garimpo mesmo porque não tá fácil pro leitor, hein?
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book rec da semana
esta é minha última carta de amor para você, embora alguns a chamariam de confissão...
minha última carta de amor, ou confissão? constanta, salva da morte por estranho misterioso, transforma-se de camponesa em noiva digna do rei imortal drácula. mas, cercada por paixão e engano, ela descobre sua capacidade para terríveis atos. nos braços de consortes rivais, desvenda segredos sombrios do marido e enfrenta a escolha entre liberdade e amor. laços de sangue só rompem com a morte.
⌘ nota de rodapé
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Não conheço o livro conversa entre amigos e nem a escrita de Sally Rooney e nem mesmo vi a adaptação rsrsrs . Novamente gostei da forma que vc apresenta o livro e os personagens, da para ter uma boa visão da história e a deixa interessante.
Nunca li nada da Sally (ainda) comprei pessoas normais, vi muita gente indicando e gostando! Pretendo ler esse ano ainda